MARIA RAMIM

Maria Ramim

sábado, 21 de janeiro de 2017

ENTREVISTA: AUTISMO

por Clarissa Pains 

Luiz Fernando Vianna lança o livro "Meu menino vadio", em que relata sua vida com o filho autista - Custódio Coimbra / Agência O Globo
RIO — Os últimos 16 anos levaram o jornalista Luiz Fernando Vianna a chorar, se culpar, sentir raiva, rir e se emocionar. Várias vezes, e não necessariamente nessa ordem. Seu primeiro filho, nascido em 2000, é autista. Usando de uma escrita realista, Vianna desabafa sobre a vida e a relação entre os dois no livro “Meu menino vadio” (Intrínseca). Nesta entrevista, o autor defende que não se deve glamourizar o autismo, condena a ideia de culpar os pais pelos problemas da criança, critica Donald Trump por espalhar mitos a respeito do tema e reflete sobre como muitas pessoas ainda não sabem lidar com o chamado transtorno do espectro autista, que afeta 1% da população mundial e impõe dificuldades muitas vezes graves de comunicação e interatividade, entre outras limitações.

O GLOBO: Você fala muito que não se deve “glamourizar” o autismo. Por quê?

Antigamente, era comum transformar o autismo numa tragédia. Mas, hoje, ocorre muito o discurso de que o autista é um anjo, de que existe uma bênção em torno disso. Não podemos mascarar o transtorno com esse discurso poliano. É uma fuga à qual as pessoas recorrem para se proteger, até porque, no fundo, sabem que a barra é pesada. O autismo não é um monstro, mas também não há nada de bonitinho nele. Como sou jornalista, o que sei fazer é escrever, então resolvi encarar a vida com meu filho através das palavras. Não adiantaria fazer um livro bonitinho, porque soaria falso.

O GLOBO: Ao longo do livro, você cita vários outros escritos também por pais de autistas, como “Cartas de Beirute”, de Ana Nunes, e “Aonde a gente vai, papai?”, de Jean-Louis Fournier...

Assim que soube do diagnóstico, saí comprando todos os livros possíveis. De autismo relacionado à psicanálise, espiritismo, tudo. Como muitos pais, eu nada sabia sobre o assunto. A vontade de escrever meu próprio livro foi uma maneira de dar também meu testemunho. Nós, pais, que vivemos no dia a dia com autistas, temos mais condição de falar sobre as dores e as alegrias do que os terapeutas. Eles podem fazer trabalhos excelentes, mas não dormem com as crianças, não têm que lidar com elas quando mordem o próprio braço ou quando comem meleca.

O GLOBO: Hoje, o Henrique mora um ano no Brasil, com você, e um ano nos Estados Unidos, com a mãe. Como isto influencia o desenvolvimento dele?

Se para qualquer um, a situação seria complicada, para ele é pior, porque já tem uma dificuldade natural de linguagem, e é estimulado ora em inglês, ora em português. Segue um tipo de terapia durante um ano, e muda no ano seguinte. Esta foi a única saída para que eu pudesse tê-lo perto de mim. Mas ainda espero conseguir um acordo que permita que ele fique num mesmo lugar o ano letivo inteiro, e vá para o outro país nas férias. Deixaria a mãe escolher onde ele passaria cada período. O autismo pede estabilidade, e o Henrique nunca teve isso.

O GLOBO: Qual foi a terapia que mais deu resultado para o seu filho?

O Método ABA (Applied Behavior Analysis) fez muito bem a ele na Austrália, deixando-o mais concentrado. Aqui no Brasil, houve um trabalho importante com uma fonoaudióloga. Mas, agora, com 16 anos, sei que os resultados que aparecerem serão pequenos.

O GLOBO: E essas terapias são caras?

Sim, no Brasil, não há opções gratuitas, especialmente para um autista adolescente. Montar um kit terapêutico ideal custaria um dinheiro que não tenho. Faço o básico: escola particular especial, porque ele não tem condições de entrar numa regular, e uma atividade extra, como natação ou ginástica, que é do que ele mais gosta. Infelizmente, a maioria dos pais no Brasil nem isso consegue.

O GLOBO: Como são o vocabulário e as habilidades sociais do Henrique hoje?

Ele tem um vocabulário de cerca de 50 palavras que resolvem coisas mais imediatas do dia a dia, como “carne” e “banho”. Algumas poucas vezes, ele é agressivo, e, mesmo quando não é, também não se comporta como um lorde, né? Isso dificulta sua socialização.

O GLOBO: E qual foi a pior terapia que ele fez?

A psicanalítica, que foi a primeira. Tínhamos acabado de saber do risco de ele ter autismo, e a psicanalista levou muito tempo sem nos falar claramente. Ela dizia que não poderia nos dar um diagnóstico porque esse era um assunto entre ela e o cliente dela. Só que o “cliente” tinha 4 anos e era não verbal! Foi um desastre, e perdemos um ano nisso, tempo demais para uma criança autista.

O GLOBO: Existe um ramo da psicanálise, muito aceito nos anos 1960, que culpa os pais pelo mal desenvolvimento dos filhos. Isso ainda tem força?

Muitas pessoas ainda acreditam nisso. Uma das teorias é a da “mãe geladeira”: a mãe é fria, não sabe amar o filho, e, por isso, ele desenvolve problemas. Essa culpa excessiva destruiu a vida de muitas pessoas. Eu não perdoo. E há vários outros mitos que volta e meia retornam. Por exemplo, nos EUA, o Trump e o Secretário de Imunização nomeado por ele (Robert F. Kennedy Jr.) insistem que a vacina tríplice (contra sarampo, caxumba e rubéola) causa autismo! Essa ideia surgiu em 1998, e, quando parecia que estava esquecida, volta à tona. Um retrocesso.

O GLOBO: Você tem uma filha de 5 anos, de outro casamento. É difícil conciliar?

Praticamente impossível, e eu juro que tentei. Nos anos em que o Henrique vive comigo, passo muito menos tempo com ela, porque ele exige mais atenção. Até por isso o livro é dedicado a ela, para que possa entender o pai e o irmão. O livro é um testemunho, mas também um testamento. Quando eu e a mãe do Henrique morrermos, ela vai ter que segurar a onda. E é importante que isso não seja tratado como um fardo, mas como a realidade da vida. Ela está começando a compreender algumas coisas, mas ainda não entende os sons que ele emite porque acha que ele está falando inglês, por exemplo.

O GLOBO: Que conselho você daria para pais de autistas?

Esqueça os extremos. Não se jogue da janela, o autismo não é uma tragédia. Mas também não finja que é uma coisa fácil. Quando recebemos o diagnóstico, é como viver um momento de luto. Você perde seu filho, porque você perde aquela ideia que tinha do que o seu filho seria. Mas, depois que passar esse período, entenda que será um dia após o outro: em alguns você terá.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

PITACOS NEUROPSICOLÓGICOS: PSICOMOTRICIDADE NO TDAH


O Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade (TDAH) é uma disfunção em que a variável psicomotora não deve ser negligenciada. Isso fica evidente nos critérios nosológicos registrados no DMS-V e no CID-10, nos estudos de: regulação comportamentais, de estimulação tátil e auditiva, integração sensório-motora, etc.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

EXPLIQUE O MOTIVO POR TRÁS DA REGRA



Quando você disser não, deve sempre explicar por quê. Você não quer botar medo no seu filho para que ele obedeça. Na verdade, quer criar um mundo coerente e previsível para ele e mostrar que respeita a autonomia e inteligência dele.
Se a situação for perigosa, aja primeiro e dê o motivo depois. Sempre seja direto: você não quer que sua explicação soe como uma negociação (porque não é). Às vezes, ajuda relembrar as regras aos seus filhos. Por exemplo, ao entrar no supermercado, deve dizer aos seus filhos que eles estão ali para comprar artigos necessários para a casa, não brinquedos, doces ou biscoitos. Ao ser consistente com as regras seus filhos passaram a não pedir tais produtos, nesses momentos de compras. Outra alternativa, é dar a opção de compra com a mesada, caso tenham.
Quando falar com seus filhos, procure usar a linguagem dos direitos, por exemplo, “você não tem direito  de fazer birra”. Isso implica que existe um sistema coerente de regras e que a criança tem direito de fazer outras coisas, dentro do sistema de regras estabelecidas.


Fonte adaptada: Pamela Druckerman – “Crianças francesas dia a dia”

sexta-feira, 10 de junho de 2016

LINGUAGENS


ORIENTAÇÕES SOBRE A CORREÇÃO DA LINGUAGEM ORAL DE CRIANÇAS


Não corrigir demasiado para não acentuar comportamentos de timidez, e nem deixar sem correção, pois agravam-se os erros.
ü  Não falar com a criança em termos vulgares ou errôneos. Muco nasal, nádegas, evacuar, urinar são termos clínicos que a criança aprende com facilidade.
ü  Repetir, em meio a muitas frases, o termo que de deseja ensinar à criança. Exemplo: “Passava eu de bicicleta diariamente por uma rua quando, ao atravessar um trecho pior, disse: ‘PARALELEPÍPEDO’ aqui é muito alto, a bicicleta derrapa”.
ü  Ler livros infantis adaptados à capacidade da criança, a princípio frisando os termos, e traduzindo –os para a sua linguagem. Mas ir aos poucos deixando de dar sinônimos até ler-se sem parar. Assim como nós, adultos, lendo um trecho em língua estranha pegamos pelo sentido o significado das palavras, as crianças em meio à nossa leitura pegam também, pelo sentido, o significado dos termos desconhecidos.
ü  Disfarçar sempre quando a criança aprender nomes feios. Correções como bater na boca e pô-la de castigo normalmente reforça o uso do termo via negação.
ü  Elogiar sempre que a criança empregar termo adiantado, mostrar-lhe como é bonito falar certo.


Fonte: Fernanda Barcellos, em “Psicologia Geral Infantil”

quarta-feira, 8 de junho de 2016

A PSICOMOTRICIDADE NA APRENDIZAGEM

"O que tem acontecido hoje é uma cobrança desenfreada do que o cérebro da criança nem está preparado para conseguir: como escrever aos 4 anos, (...). Temos que ficar atentos a essa pirâmide se a criança for atípica ou típica. O brincar e o desenvolvimento dos sistemas que estão na base da pirâmide são essenciais para qualquer pessoa. Quando o desenvolvimento fora dessa ordem for natural, tudo bem, mas cobrar de forma inadequada é injusto. Saber por onde começar a estimular também é importante."  Elaine M. Savian

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

TRIAGEM PARA TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA EM CRIANÇAS PEQUENAS – DECLARAÇÃO DE RECOMENDAÇÕES DA PREVENTIVE SERVICES TASK FORCE NEW DOS EUA (USPSTF)

Há no meio clínico debates quanto a eficácia do rastreio do transtorno do espectro autista – TEA por meio de escalas por considerem esse recurso insuficiente para crianças sem sinais e sintoma evidentes entre 8 meses e 30 meses e da intervenção precoce desnecessária quando o diagnóstico é indevido. Há, também, a preocupação quanto à necessidade de uso de instrumentos validados que permitam a detecção de casos com potenciais riscos de ser subdiagnosticados.
A declaração considera a necessidade de os profissionais ouvirem atentamente as queixas dos pais durante o exame; recorrerem a instrumentos validados para avaliar a necessidade de testes e serviços de diagnósticos complementares. Orientam que os profissionais devem ficar atentos durante a fase de desenvolvimento entre 08 a 30 meses por observarem muitas crianças subdiagnosticadas por problemas de precisão nas escalas.
Frisam diversas vezes que a recomendação não é a FAVOR ou CONTRA a triagem via escalas por falta de evidências nas pesquisas disponíveis sobre o assunto, mas que nos casos de riscos e com falta de sinais e sintomas evidentes o clínico deve utilizar o seu julgamento para decidir se o rastreio será suficiente para descartar um paciente do rol de potenciais riscos de ser subdiagnosticados para TEA.
O grande problema então das triagens são: a instabilidade no diagnóstico de TEA em idade precoce; falta de dados sobre o valor preditivo positivo; e fraqueza de evidências para eficácia do tratamento precoce.  Portanto, o rastreio é importante, mas não suficiente para crianças sem sinais evidentes.
Apresentam os testes M-CHAT, Follow M-CHAT-F, Follow M-CHAT-R/F (para os pais) e Autism Screening  Questionnaire para rastreio do TEA.  Sendo que a avaliação central requer análise das habilidades de comunicação; atenção conjunta, ou seja, flexibilidade e adequação no uso dos diversos tipos de atenção exigidos pelo ambiente – interação atencional; motricidade (movimentos repetitivos); e simulação de jogo.
O tratamento é via modulação comportamental, acompanhamento médico (pediatra, neurologista e/ou psiquiatra), suporte pedagógico para educação formal, fonoaudiologia, terapia ocupacional. A intervenção precoce em comportamentos disfuncionais e cognitivos  para TEA deve atrelar-se ao desenvolvimento do paciente por meio de análise comportamental aplicada, psicoeducação para os pais, reprodução ou intervenção baseadas na INTERAÇÃO. Esse rol de intervenção multi/interprofissional tem apresentado bons efeitos na eficácia sobre resultados cognitivos, comportamentais e de linguagem. Esse programa exige, porém, intervenção intensiva de até 40 horas semanais e aplicado nos diversos ambientes da criança (escola, casa e ambulatorial). Portanto, o tratamento precoce intensivo, atrelado ao desenvolvimento, reduz os sintomas nucleares do TEA.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

TATO: PERSPECTIVA PARA A REABILITAÇÃO SENSORIAL/MOTORA EM AVC

'Pele' artificial pode devolver sensação de tato a amputados
Cientistas desenvolvem material para revestir próteses do futuro
POR CESAR BAIMA
15/10/2015 18:21 / atualizado 15/10/2015 21:00
RIO - Reconstituir a sensação de tato é um dos maiores desafios atuais na produção de próteses para membros amputados, como mãos, braços e pernas mecânicas, mas um novo modelo de “pele” artificial desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, pode ser o caminho para a solução do problema. Tirando vantagem dos rápidos avanços na fabricação de circuitos eletrônicos flexíveis, eles criaram um material capaz não só de detectar variações de pressão ao toque similares às experimentadas pela pele natural como gerar sinais que podem ser assim interpretados por neurônios do sistema somatossensorial. Com isso, os usuários das próteses do futuro revestidas com este material poderiam recuperar controle motor para realizar tarefas delicadas, além de obter uma estimulação sensorial que pode aliviar a chamada dor do membro fantasma, mal que afeta cerca de 80% dos amputados.
- Esta é a primeira vez que um material flexível parecido com a pele pôde detectar pressão e também transmitir um sinal para um componente do sistema nervoso – diz Zhenan Bao, professora da Universidade de Stanford e líder da pesquisa, cujos resultados foram publicados na edição desta semana da revista “Science”.
A “pele” artificial sensível ao toque é composta por duas camadas de material plástico, em que a de cima funciona como mecanismo sensor enquanto a de baixo atua como um circuito que transporta os sinais elétricos produzidos e os traduz em estímulos bioquímicos compatíveis com os das células nervosas. Há cinco anos, Zhenan e sua equipe, que buscam uma solução para o problema do tato em próteses há uma década, já haviam descrito como usar plásticos e borrachas como sensores de pressão com base na elasticidade natural de suas estruturas moleculares, melhorando sua sensibilidade ao unir os materiais em uma estrutura parecida com um biscoito em camadas.
A partir disso, os cientistas espalharam bilhões de nanotubos de carbono pelo novo material, de forma que, quando submetido à pressão, ele aperte os nanotubos, permitindo que conduzam eletricidade. Assim, a “pele” artificial pode imitar o comportamento da pele humana natural, que transmite informações sobre a pressão para o cérebro na forma de pequenos pulsos elétricos. Esses pulsos funcionam de modo similar ao código Morse, com mais pressão espremendo os nanotubos cada vez mais próximos, fazendo com que mais eletricidade flua pelo sensor. Com menos pressão, o fluxo de pulsos diminui, indicando um toque leve, e na ausência de pressão os pulsos cessam por completo.
O trabalho dos cientistas, no entanto, não acabou aí. Ainda era preciso encontrar uma maneira de transmitir estes pulsos para células nervosas de modo que elas pudessem interpretá-los como uma sensação de tato. Para tanto, eles se uniram a pesquisadores da PARC, uma empresa do grupo Xerox, que desenvolveram tecnologia que usa impressoras do tipo jato de tinta para fazer circuitos eletrônicos flexíveis em plásticos. Com isso, eles puderam produzir uma segunda camada do material com dimensões que permitem seu uso prático como “pele” artificial.
Por fim, os cientistas de Stanford também tiveram que provar que o conjunto gera sinais que podem ser reconhecidos por um neurônio. Para isso, eles adaptaram técnica desenvolvida por Karl Deisseroth, também professor da universidade americana, que uniu genética e ótica no crescente campo de estudos conhecido como optogenética. Com base nos princípios da optogenética, eles produziram neurônios modificados sensíveis a frequências específicas de luz para simular o sistema nervoso humano e traduziram os sinais gerados pela “pele” artificial em pulsos luminosos, que então ativaram estes neurônios quando submetida à pressão.
Segundo Zhenan, a optogenética foi usada apenas para demonstrar que a “pele” artificial funciona e é compatível com sistemas biológicos, e outros métodos de estímulo das células nervosas deverão tomar seu lugar nas futuras próteses sensíveis ao toque, provavelmente uma estimulação elétrica direta. Os pesquisadores também esperam desenvolver e integrar à “pele” artificial outros sensores capazes de detectar as diferenças entre uma superfície áspera e uma macia, assim como entre uma fria e outra quente, ampliando a gama de sensações que ela pode transmitir.
- Ainda temos muito trabalho pela frente para levar isso dos experimentos para aplicações práticas – reconhece Zhenan. - Mas depois de trabalhar muitos anos nisso, agora vejo um caminho claro por onde podemos conduzir nossa pele artificial.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

EMPATIA


COMO A ANSIEDADE AFETA O SEU COROPO - REAÇÕES FISIOLÓGICAS: PSICOEDUCAÇÃO

Ninguém gosta de sofrer episódios de estresse ou ansiedade –e, quando isso se torna uma ocorrência crônica, os impactos podem variar de uma irritação pouco importante até um perigo para a saúde. Quer você esteja sofrendo uma situação altamente estressante isolada ou seja um dos 40 milhões de americanos que sofrem de transtorno de ansiedade, sua reação física à emoção pode afetá-lo de mais maneiras do que você imagina. Leia mais para descobrir como a ansiedade modifica seu corpo, quer seja uma reação imediata ao estresse ou uma batalha de longo prazo.

Alissa Scheller para o The Huffington Post.

Quando seu corpo sofre o efeito da ansiedade, você pode apresentar...

Problemas de garganta. Aquela voz esganiçada que parece ter tomado conta de suas cordas vocais é sua reação imediata a uma situação estressante. Quando sentimentos de ansiedade se manifestam, os fluidos são desviados para partes mais essenciais do corpo, provocando espasmos nos músculos da garganta. Isso resulta em constrição, deixando a garganta seca e provocando dificuldade em engolir.

Reações hepáticas. Quando o corpo sofre estresse e ansiedade, o sistema suprarrenal produz uma quantidade excessiva de cortisol, o hormônio do estresse. Essa produção hormonal leva o fígado a produzir mais glicose, o açúcar sanguíneo de alto teor energético que desencadeia nossas reações de “lutar ou fugir”. No caso da maioria das pessoas, esse açúcar sanguíneo adicional no corpo pode ser reabsorvido sem causar danos reais. Mas as pessoas com risco de diabetes podem ter problemas de saúde com o açúcar sanguíneo adicional.

Reações de pele. Aquele suor frio ou o rubor quente de seu rosto são sinais externos de estresse imediato e são devidos a uma mudança no fluxo sanguíneo. Quando sofremos ansiedade, o sistema “lutar ou fugir” do corpo manda mais sangue aos músculos – uma reação útil quando há necessidade imediata de usá-los. Mas uma exposição de longo prazo a essa reação pode acelerar o envelhecimento da pele. Outras reações de pele incluem a transpiração e até elevações no nível de histamina, que podem gerar inchaço. De acordo com o Centro Médico da Universidade de Maryland, o estresse e ansiedade agudos também podem desencadear eczema.

Ativação do baço. A ansiedade não afeta apenas os órgãos mais óbvios, como cérebro e coração: ela atinge até as funções internas, como o baço e as células sanguíneas. Para distribuir mais oxigênio ao corpo, que pode ter sofrido baixa de oxigênio durante a situação que provocou o estresse, o baço descarrega glóbulos vermelhos e brancos adicionais. Seu fluxo sanguíneo aumenta em 300% a 400% durante esse processo, para preparar o resto do corpo para demandas adicionais.

Tensão muscular. Quando você começa a sentir ansiedade, seu corpo naturalmente fica mais rígido, tensionando os grandes grupos musculares. O estresse e ansiedade crônicos podem exacerbar essa tensão, resultando em dores de cabeça, ombros enrijecidos, dor na nuca e até enxaquecas. As pessoas submetidas a estresse constante sofrem risco maior de problemas musculoesqueléticos crônicos.

Depois de algum tempo, a ansiedade crônica pode afetar...

Seu coração. Os estressados e ansiosos crônicos apresentam risco maior de problemas cardiovasculares, devido à frequência cardíaca constantemente elevada, a pressão sanguínea elevada e a superexposição ao cortisol. De acordo com a Associação Psicológica Americana, o estresse de longo prazo pode acarretar hipertensão, arritmias e um risco aumentado de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.

Seus pulmões. Estudos comprovam que existe uma relação entre os sofredores de transtornos de ansiedade e a asma. Os asmáticos também têm probabilidade maior de sofrer ataques de pânico. De acordo com pesquisa conduzida pela USP, também pode existir um vínculo entre ansiedade, asma e seus efeitos sobre o equilíbrio.

Seu cérebro. A reação mais evidente à ansiedade é a resposta psicológica à condição. O estresse e ansiedade crônicos podem afetar áreas do cérebro que influenciam a memória de longo prazo, a memória de curto prazo e a produção química, o que pode resultar num desequilíbrio. Soma-se a isso o fato de que o estresse crônico pode ativar continuamente o sistema nervoso, que, por sua vez, pode influenciar outros sistemas do corpo, desencadeando reações físicas, desgaste corporal, fadiga e outros sintomas.

As pessoas que sofrem de ansiedade também têm dificuldade em adormecer, pelo fato de ficarem remoendo pensamentos preocupantes. Aproximadamente 54% das pessoas dizem que o estresse e a ansiedade influenciam sua capacidade de pegar no sono, e mais de 50% dos homens e 40% das mulheres sofrem dificuldades de concentração no dia seguinte em consequência disso, revela a Associação de Ansiedade e Depressão americana.

Seu sistema imunológico. A exposição ao estresse pode cobrar um preço do sistema imunológico, levando essa função a ser suprimida devido à reação “lutar ou fugir” de seu organismo. Estudos constataram também que, quando estamos estressados, temos mais chances de contrair um resfriado e ficamos mais suscetíveis a infecções e inflamações.

Seu estômago. Quando seu corpo sofre estresse, ele não regula corretamente a digestão dos alimentos. O estresse crônico e extremo pode ter efeitos de longo prazo sobre os intestinos e os nutrientes que eles absorvem, provocando refluxo, inchaço, diarreia e ocasionalmente até o descontrole intestinal.

O estresse e a ansiedade de longo prazo também podem alterar o metabolismo corporal, levando ao ganho de peso e possivelmente à obesidade. Um estudo constatou que a liberação constante de cortisol no sangue pode reduzir a sensibilidade à insulina, e outra pesquisa recente encontrou uma associação entre adultos que sofrem de ansiedade e úlceras diagnosticadas por médicos.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

FOBIA DA PSIQUÊ

Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra: 'O pai do estigma se chama Hollywood'
Estudioso da psicofobia (pânico de doenças mentais), mineiro, que mora em Brasília e preside associação da classe, veio ao Rio a trabalho
POR LEONARDO CAZES
01/07/2015 6:00 / ATUALIZADO 01/07/2015 18:44


Segundo o presidente Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, só no Brasil 50 milhões de pessoas com algum tipo de transtorno mental - Pedro Kirilos / Agência O Globo
“Nasci em Grão Mogol, no interior de Minas Gerais, há 51 anos, passei a maior parte da vida em Montes Claros e atualmente moro em Brasília. Sou casado, tenho uma filha e faço doutoramento em psiquiatria na Universidade do Porto, em Portugal. Estou no meu segundo mandato à frente da Associação Brasileira de Psiquiatria”
Conte algo que não sei
Vou contar o que é psicofobia. Há milêniosexiste um grande preconceito contra doenças mentais. Várias pessoas foram queimadas em fogueiras porque ouviam vozes. Sempre foram segregadas, vistas como fardo.
Qual o tamanho desta população tão estigmatizada?
Só no Brasil temos cerca de 50 milhões de pessoas com algum tipo de transtorno mental. No mundo, um bilhão. Em geral, ninguém sabe, nem os doentes, que escondem sua condição e ignoram que podem se tratar.
Por que números tão altos?
O estresse hoje em dia é um grande facilitador da doença mental, atuando em tendências preexistentes. Você dorme pouco, come mal, não se exercita e vive sob uma pressão brutal. Cinco das dez principais causas de afastamento do trabalho são relacionadas a transtornos mentais.
O ambiente de trabalho é hostil ao doente mental?
As pessoas não toleram que as outras mudem e que tenham perdas de produção. Aí dizem que é só preguiça, falta de vontade e até de caráter. Quem tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) sofre um preconceito monstruoso.
O que ocorre, no caso?
Virou moda dizer que essa doença não existe, que é inventada. Acontece que tem dois mil anos. Quero saber quem conheceu esse cara que a inventou.
Há o próprio preconceito do doente, não?
Tem o autopreconceito: “Não vou procurar um psiquiatra, não sou louco”. Só que isso muda completamente o prognóstico da doença, ela se torna crônica. O que mais queremos hoje é a intervenção precoce. Estimular uma mudança de comportamento aos primeiros sintomas para que nem seja preciso entrar com medicação. Claro que há casos em que ela é indispensável desde o início.
Quais são esses primeiros sinais das doenças?
Há várias possibilidades dependendo de qual doença. Tristeza, desânimo, falta de prazer, de alegria, em geral é depressão. Se o coração dispara, tem sensação de sufocamento, é transtorno de pânico. E assim em uma série de situações. Quando há modificações de hábitos ligados a instinto, como sono e apetite, tem que cuidar.
O medo do desconhecido explica o preconceito?
Sim. As pessoas acham que é perigoso porque não sabem do que se trata. Então é melhor separar, discriminar. Fizeram isso com os hospitais psiquiátricos. Por que não há unidades de psiquiatria no hospital geral? Porque ninguém quer doente mental dentro do hospital.
Por que o senhor escolheu a psiquiatria?
Porque eu gosto do ineditismo e também pela possibilidade que a especialidade dá de ajudar as pessoas que têm suas vidas destruídas por quadros psiquiátricos a voltarem a viver. Todo dia há um fato novo na psiquiatria. Nada se repete. E é isso que me impressiona.
Na queda do avião alemão, logo surgiu a informação de que o piloto tinha depressão. Isso aprofunda o estigma?

O pai do estigma, de sua difusão, se chama Hollywood. São filmes e mais filmes que discriminam o doente. Sabe quando a pessoa tem febre, não se consegue explicar a razão e chamam de virose? É a mesma coisa. Quando não se tem explicação para um fato, dizem que é doente mental, e tudo se resolve.

sexta-feira, 27 de março de 2015

REDE DE APOIO À SÍNDROME DE DOWN

Maria Antônia Goulart, advogada: ‘Impomos muito mais limites que a síndrome’
Especialista em políticas públicas da educação integral, gaúcha que mora no Rio é uma das idealizadoras do Movimento Down, criado após dar à luz Beatriz
POR EDIANE MEROLA

Coluna: "Conte algo que não sei."

Foi o Brasil que apresentou à ONU a proposta de transformar o 21 de março no Dia Internacional da Síndrome de Down. Isso não é muito sabido. O dia é simbólico porque se refere aos 3 cromossomos 21, que caracterizam a síndrome. Patricia Almeida, casada com um diplomata que estava em Nova York numa missão da ONU, e Cristiane Aquino, que era diplomata em Washington, por intermédio do Itamaraty, conseguiram o feito. As duas têm filhos com a síndrome. O Movimento Down começou aí.

Quando soube que teria uma filha com Down?

Assim que Beatriz nasceu. Na gravidez fiz o exame de translucência nucal, mas não acusou. É algo que acontece. Hoje há exames mais modernos, mas ainda muito caros.

Você teve mais filhos?

Tenho o Luiz, de 19 anos, a Beatriz, de 4, e a Marina, de 2. O geneticista que nos acompanhou deu um só conselho: tenha outro filho. Ajuda muito, tanto para a criança quanto para a família.

Como é a relação das pessoas com a síndrome?

As pessoas desconhecem o potencial de quem tem deficiência intelectual. Nós impomos muito mais limites que a síndrome, achando que estamos protegendo. Isso já impede a pessoa de viver, acertar, errar, como qualquer um.

E quanto ao comportamento da família?

A gente aprende a botar a síndrome no lugar dela. No começo, fica do tamanho da sala. Depois você passa a olhar de forma positiva. O Breno (Viola, faixa preta e judô e ator do filme “Colegas”, dirigido por Marcelo Galvão), que trabalha com a gente desde o início, foi aos Estados Unidos falar na ONU.

Breno falou inglês na ONU?

Ele até arranha, mas teve tradutor, e eu também. Ele é um exemplo de capacidade. Certa vez foi a um congresso na África do Sul, com uma monitora nossa. Lá chegando, soube que “Colegas” havia levado o Kikito de melhor filme. Ele queria ir, mas a monitora não poderia acompanhá-lo. Dei a opção de ir sozinho e ele aceitou. Fez conexão no Aeroporto Charles de Gaulle, que é enorme, chegou a São Paulo e pegou outro voo para Gramado. Hoje, de 15 em 15 dias, ele vai a São Paulo, pega ônibus, táxi, tudo sozinho.

Há limites de aprendizado?

Conheci um rapaz com outro problema: paralisia cerebral. É o cineasta Daniel Gonçalves. Fiquei impressionada quando ele me contou que trabalhou para a TV Globo e que tem a própria produtora, e disse: “Tenho paralisia cerebral, mas sei fazer”. E foi ele quem produziu nossos vídeos. Ele relata que às vezes, andando na rua, as pessoas acham ele vai cair, e ele quase cai, mas de susto. É um movimento instintivo, mas que cria uma barreira.

Como o a pessoa com Down ajuda a sociedade?

A experiência vem mostrando que ter uma pessoa com Down por perto traz desafios novos. Não podemos posicioná-la como fardo. Todos ganham quando há heterogeneidade.

Quais são as atividades do Movimento Down?

Reunimos experiências e as tornamos públicas; qualificamos pessoas para reproduzirem informações. Temos vídeos tutoriais, mandamos material com sugestões de atividade. Hoje temos quase 170 mil curtidas na página do Facebook. No Brasil, quase não havia informação. Diferente dos Estados Unidos, onde há uma rede muito estruturada.

Como a rede se mantém?

Temos uma equipe profissionalizada, mantida com patrocínio, e um grupo grande de voluntários, entre os quais uma médica do hospital Albert Einstein, que também tem um filho com Down.




TEXTO DE ADÉLIA PRADO: ENVELHECER



"Erótica é a Alma"

"Todos vamos envelhecer... 

Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos. 

A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar. 

Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. 

Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio."

Adélia Prado

quinta-feira, 5 de março de 2015

BEM VINDO A HOLANDA: TENDO UM FILHO COM DESENVOLVIMENTO ATÍPICO

Por Emily Perl Knisley, 1987

Ter um bebê é como planejar uma fabulosa viagem de férias para a Itália ! Você compra montes de guias e faz planos maravilhosos! O Coliseu. O Davi de Michelângelo. As gôndolas em Veneza. Você pode até aprender algumas frases em italiano. É tudo muito excitante. Após meses de antecipação, finalmente chega o grande dia! Você arruma suas malas e embarca. Algumas horas depois você aterrissa. O comissário de bordo chega e diz:
- BEM VINDO A HOLANDA!
- Holanda!?! - Diz você.
- O que quer dizer com Holanda!?!? Eu escolhi a Itália! Eu devia ter chegado à Itália. Toda a minha vida eu sonhei em conhecer a Itália!
Mas houve uma mudança de plano vôo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar.
A coisa mais importante é que eles não te levaram a um lugar horrível, desagradável, cheio de pestilência, fome e doença. É apenas um lugar diferente.
Logo, você deve sair e comprar novos guias. Deve aprender uma nova linguagem. E você irá encontrar todo um novo grupo de pessoas que nunca encontrou antes.
É apenas um lugar diferente. É mais baixo e menos ensolarado que a Itália. Mas após alguns minutos, você pode respirar fundo e olhar ao redor, começar a notar que a Holanda tem moinhos de vento, tulipas e até Rembrants e Van Goghs.
Mas, todos que você conhece estão ocupados indo e vindo da Itália, estão sempre comentando sobre o tempo maravilhoso que passaram lá. E por toda sua vida você dirá: - Sim, era onde eu deveria estar. Era tudo o que eu havia planejado!
E a dor que isso causa nunca, nunca irá embora. Porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. Porém, se você passar a sua vida toda remoendo o fato de não ter chegado à Itália, nunca estará livre para apreciar as coisas belas e muito especiais sobre a Holanda!

sábado, 14 de fevereiro de 2015

OS DOIS SEGREDOS DE UMA RELAÇÃO DURADOURA: GENEROSIDADE E BONDADE

  • Ciência comprova: As relações que duram mais dependem de 2 coisas básicas

    Está sobrando agressividade, desrespeito e desinteresse em seu relacionamento? Esse estudo aponta duas coisas básicas que podem salvá-lo.

  • Milhares de casais se unem em matrimônio anualmente. No Brasil, o mês das noivas é maio, nos Estados Unidos, o mês mais popular para casamento é o mês de junho, onde em média 13.000 casais dizem "sim".
    Desses casais que decidem passar a vida juntos, muitos não conseguem levar o relacionamento por muito tempo. Se você parar agora e analisar quantos casais você conhece que se casaram e se divorciaram, certamente terá que anotar, ou perderá a conta. Pensando nisso, que o psicólogo, John Gottman, juntamente com sua esposa também psicóloga, Julie Gottman, realizaram um estudo com casais para entender melhor o motivo do fracasso e do sucesso de seus relacionamentos.
    A conclusão a que chegaram pode parecer óbvia demais, porém ao analisarmos os detalhes de nossos próprios relacionamentos, certamente identificaremos pontos que precisam de mais atenção.
    Segundo o estudo dos Gottmans, as duas coisas básicas que movem um relacionamento até o fim da vida são generosidade e bondade.
    John e Julie criaram o "The Lab Love" (O Laboratório do Amor), levaram 130 casais para seu laboratório do amor, onde passaram o dia realizando tarefas corriqueiras como comer, cozinhar, limpar, enquanto os cientistas sociais os analisavam. Ao fim das análises, os estudiosos classificaram os casais em dois grupos: mestres e desastres. Passaram-se seis anos e os casais foram chamados novamente. Os mestres permaneciam juntos e felizes. Os casais que pertenciam ao grupo "desastres" ou não estavam mais casados ou permaneciam juntos, porém infelizes. Esse resultado levou os cientistas a conclusão de que a generosidade é fundamental para o relacionamento entre o casal. Atos simples como responder a perguntas rotineiras com agressividade ou com generosidade afeta o futuro e a qualidade do seu relacionamento. Perguntas como: "Você viu aquele pássaro?" podem ser a deixa para a esposa demonstrar mais interesse pelos gostos do marido, agindo com generosidade e bondade, criando uma conexão entre os dois. Respostas ríspidas, desinteressadas ou ignorar o apontamento do seu companheiro por indiferença, significam bem mais do que apenas cansaço, ocupação, falta de tempo. Mas sim, podem representar que tudo é mais importante do que as coisas bobas que ele ou ela apreciam.
    O estudo apontou que temos duas respostas a escolher quando se trata das questões de nossos companheiros, podemos optar por respostas generosas que nos aproximam como casal ou respostas ríspidas que nos afastam um do outro. Os "mestres" escolhiam respostas generosas, criavam uma conexão com o companheiro, demonstrando-lhe interesse em suas necessidades emocionais. Pessoas que agem com bondade e generosidade, como os casais que pertenciam ao grupo de "mestres" preocupam-se em criar um ambiente de apreciação e gratidão pelo o que o companheiro faz, em contrapartida, casais "desastres" constroem um ambiente baseado na insatisfação, sempre apontando para os erros do outro, para o que ele deixou de fazer, esquecendo-se dos pontos positivos.
    A pesquisa mostrou que em situações como, o atraso da esposa ao se preparar para um jantar pode ser encarado pelo marido de duas maneiras diferentes: com bondade e generosidade ou com agressividade, concentrando-se apenas no fato de que ela sempre se atrasa, nunca se apronta na hora combinada, desconsiderando que o atraso pode ter sido motivado pelo tempo que ela gastou preparando uma surpresa para ele.
  • Generosidade e bondade

    Generosidade e bondade podem salvar seu relacionamento. Não estou dizendo que no dia de aniversário de casamento, uma vez ao ano, você fará aquela surpresa linda, e pronto. O que a pesquisa revelou implica na aplicação diária de doses de generosidade e bondade, seja relevando uma coisa aqui, sendo gentil em outra situação ali, evitando cobranças desnecessárias e sempre, sempre e sempre concentrar-se no que a outra pessoa fez e faz de positivo, não de negativo. Sua esposa foi ao supermercado e comprou só alimentos, esquecendo-se do creme dental? Você escolhe: seja agressivo e reclame do creme que ela esqueceu ou agradeça pela comida que comprou. Sua escolha dirá que tipo de relacionamento você está vivendo.
    John e Julie Gottman, após estudarem os casais com eletrodos enquanto conversavam, concluíram que casais do grupo "desastres" ficavam fisicamente afetados ao dialogarem com seus companheiros, fisiologicamente eram como se estivessem em guerra ou enfrentando um leopardo. Os "mestres" apresentavam passividade, relaxamento e tranquildade ao conversarem. E você? A qual grupo pertence?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

CRIAR UM FILHO

Meu filho, você não merece nada - Por: ELIANE BRUM

A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
eliane
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a "injustiça" e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam "felizes". Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que "fulano é esforçado" é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do "eu mereço".
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: "Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil"? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: "Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua". Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: "Olha, meu dia foi difícil" ou "Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso" ou "Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir". Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.